terça-feira, fevereiro 07, 2012

Seize the Day

Pouco Provável, mas Possível

Ashley abriu a porta do luxuoso apartamento depois de um longo dia de trabalho, entrou e trancou com toda a segurança. Jogou a bolsa de dois mil dólares na mesa e atravessou o hall e a sala, chegando até a imensa janela de vidro. Lá fora o sol se punha, os carros circulavam e as pessoas andavam desesperadas para chegar até suas casas. Chegar e encontrar o marido, os filhos, talvez até os pais. Cozinhar um jantar simples e depois se reunir para bater papo na varanda. Todos faziam isso; todas as pessoas comuns. Exceto ela. Ela havia conquistado tudo (e este “tudo”, era o “tudo” dela, o que ela almejava). Uma carreira sólida e brilhante com MBA no exterior e grandes negócios sendo fechados todos os dias. E no fim do dia, ela apenas dirigia seu carro até o grande prédio, entrava em seu deslumbrante apartamento e tomava um banho, pedia comida e ficava no sofá (um sofá trazido de Roma), bebendo uma taça de Dom Pérignon. Recostou-se no sofá e sorveu um gole da bebida vermelha. Deixou que a depressão batesse de leve em seus pensamentos e virou todo vinho garganta abaixo. Fechou o olhos. Abriu-os e estes agora pareciam sem luz ou vida. Sentiu a mão quente e macia tocar seu ombro direito, e em seguida o esquerdo. Fechou os olhos novamente deixando-se levar pela sensação  de prazer que aquela massagem provocava nela.
- Você demorou hoje. – Ela disse com uma voz baixa e sexy.
- Mas agora já estou aqui. E hoje eu sou todo seu. Como sempre, vim para fazer você se sentir especial. Porque você é.
- Mas ninguém nunca me diz isso. – Ashley deu um tom bem infantil à frase. Arrependeu-se disso.
- Isto é porque só eu sei o quanto você é especial e sensível, e o quanto se esconde atrás de uma máscara de mulher severa, e de bolsas e sapatos caros.
-Vamos mudar de assunto Chuck. Se lhe entreguei as chaves do meu apartamento, é porque me inspira confiança. Confiança e satisfação.
O homem alto e tatuado estava nu. Estava ali apenas para satisfazê-la. Ashley tira a roupa também, e os dois se beijam com muita intensidade. Finalmente ela sentia-se feliz e plena; completa. Agora, ela compartilhava da mesma felicidade das pessoas comuns. Tinha alguém consigo, amando-a e sempre à sua disposição. O homem reunia tudo que qualquer mulher sempre quisera. Fiel, afável, bonito, compreensivo, experiente, romântico, sincero. Sempre aparecia justamente nas horas que ela mais precisava ouvir palavras amáveis e elogios, para não sentir-se tão só no mundo. Abandonou o amor de sua vida, a religião e a família há doze anos, para construir uma carreira no mercado, ganhar dinheiro, ter sucesso. Porém hoje, com tudo conquistado, percebia (um tanto quanto tarde) que precisava de alguém com quem dividir. E sua relação com Chuck era assim. Ele nunca aparecia em sua vida quando ela não o queria. Podia flertar com quem quisesse sair, beijar... Mas quando se sentisse só, depressiva... Chuck entraria pela porta e ela se sentiria enfim, completa novamente.
Horas depois, Ashley acordou e percebeu que era meia-noite. Precisava de um banho, pois o ato sexual com Chuck naquela noite fora violento e sensual, o que a agradou. Na verdade, às vezes ela chegava a acreditar que ele lia seus pensamentos, pois sempre fazia tudo do jeito que ela queria (mesmo que secretamente, no fundo de sua mente e sem falar).
A campainha soou. Ela abriu a porta sem pestanejar, e se arrependeu depois. Três homens de branco a olhavam furtivos. E tudo começou a ficar escuro...
Ela abriu os olhos devagar, pois a luz do quarto a incomodava. Onde ela estava? Era um quarto de três metros quadrados com uma cama. Tentou erguer os braços, mas percebeu que eles estavam presos por uma camisa de força. O desespero começou.
Ela gritava por socorro, mas ninguém a atendia. Cansou-se e sentou no chão. A porta se abre.
- Rachel, tire-me daqui! O que estou fazendo neste lugar?
A irmã aproximou-se dela, abaixou-se para olhar em seus olhos.
- Querida, você não está bem.
-Claro que estou! Você me conhece! Rachel, você é minha irmã, a única pessoa da família que ainda se importa comigo. Não me deixe aqui.
- Eu tenho que te deixar aqui. Você está tendo surtos novamente. E desta vez, Chuck foi o escolhido para suprir essa necessidade que você tem. Você passou por uma fase igual a esta há onze anos, e agora está acontecendo de novo! O distúrbio de personalidade múltipla está de volta.
- Pare de dizer bobagens! Como você sabe do Chuck? Você nem o conhece!
- Ashley... Sinto muito dizer, mas você também não o conhece. Ele é um álter ego, uma personalidade que você criou em si para suprir sua falta de atenção, amor, afeto.
- Não! Você está com inveja de mim! – Ashley cospe na face da irmã e tenta se livrar da camisa de força, mas sem sucesso.
A irmã sai pela porta e Ashley corre, mas esta é trancada pelo médico. Ela apenas vê os dois conversando no corredor. Ela grita, mas seu som parece não chegar aos ouvidos dos que ali fora estão. De repente, ela vê o rosto dele, logo atrás de sua irmã. Ela abraça-a, e beija-a no rosto. Ashley deixa uma lágrima rolar, ao perceber que a irmã e o doutor não notam a presença de Chuck do outro lado da porta. É como se ele não estivesse lá. Resolveu apenas deitar-se na cama dura daquele quarto e fingir. Fingir que tinha tudo o sempre desejara. Fingir que vivia num enorme apartamento de luxo e era bem-sucedida. E fingir que Chuck estava neste mundo. Não o mundo real, dos vivos. Mas sim no mundo dela. Um mundo que sua mente criou, que ela vivia intensamente, e era feliz.




2 comentários:

  1. Gostei bastante, você constrói muito bem a personalidade dos seus personagens.

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    1. Obrigado! Espero que continue lendo e comentando! Fique à vontade para postar críticas quando achar necessário :)

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