quarta-feira, janeiro 04, 2012

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Desespero

Andava um tanto quanto desnorteada pelo píer, com os pés descalços e nenhuma perspectiva de voltar. Sabia (aliás, sempre soube) que nascera para brilhar, tinha potencial, mas algo a impediria. Não, não era o medo que a habitava naquele momento. Eram os fatos do cotidiano, os anos passando rapidamente e tudo sendo deixado para trás. Agora, ali, frente à água azul do oceano, ela fechou os olhos e deixou que a leve brisa a tocasse lentamente. E chegou a conclusão de que o momento havia chego. Era ali, que tudo terminaria. Chegou a hora de se despedir de seus sonhos. A menina que sonhava ser uma bailarina, ter um vestido de boneca, ajustado perfeitamente ao contorno de sua bela cintura, agora estava de preto. Todos que a estavam aguardando esperavam vê-la de branco, com luvas até os cotovelos e os cabelos presos num penteado clássico e elaborado.
Na realidade, vestia branco. Mas enxergava um vestido preto. No pescoço havia um belo colar com uma pedra de rubi gigantesca (presente do matador, a propósito), mas ela sentia aquilo como um punhal cravado, minando sangue.
Tudo o que construiu e sonhou, acabaria ali. Que falta faria se, por um “descuido” (é o que diria a polícia, “descuido”), tropeçasse, escorregasse... Caísse na água? Aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde. Então melhor que fosse antes de colocar aquela aliança.
Sem pensar mais, ela levantou a perna esquerda e pisou no nada, de olhos fechados. Caiu na água e pela sua cabeça, só passava o pensamento de que estava fazendo o melhor para si. Depois da cerimônia, jamais poderia realizar os propósitos que tanto sonhara.
E no jardim da bela casa, os convidados estavam esperando ansiosos para ver a noiva, com seu vestido de princesa, chegar na bela Chrysler PT Cruiser.
O noivo então, nem se fala. Esperava sua bela chegar, para que pudesse enfim anunciar que os sonhos mais marcantes dos dois se realizariam depois da cerimônia.  Ele finalmente contaria a ela que além de ter economizado o bastante, desde o início do relacionamento, para leva-la à antiga e romântica Grécia (sonho dela desde sempre), recebera também, naquela manhã, uma notícia que faria qualquer dúvida, desnorteio, sentimento de infelicidade ou intenção de suicídio possível, esvair-se de dentro dele.  A chegada de Ana, primeira filha do casal, não foi planejada, mas foi sua maior alegria. Aquele simples pedaço de papel, um exame de sangue, tornou-se o maior presente que a noiva receberia naquele dia.




*Offer (By Alanis Morissette)

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