terça-feira, janeiro 24, 2012

Mulheres Negras

A Queda

Aquele ônibus lotado não me ajudava em nada a melhorar meu humor matinal. Descobrir que estava frio para usar uma sandália logo após sair de casa, também atrapalhou bastante. Mas lá estava eu, em pé no ônibus cheio, com o pé gelado, os fones no ouvido, indo para o trabalho. É incrível como se quer sentar toda vez que se entra no ônibus, mas com a música certa rolando só no seu ouvido, você acha um cantinho e cria uma situação confortável na sua mente. Percebi que alguns idosos entraram,  e senti pena porque os bancos preferenciais estavam ocupados por uma moça com um bebê no colo e ... Ah... Uma mulher jovem. No mesmo instante que me conta que ela estava tomando o lugar daquela senhora, fixei meu olhar naquele rosto inchado dela, e esta fez que nem percebeu, virou a face para o outro lado, ignorando não só a mim, mas àquelas idosas que ficaram ali em pé. Uma raiva incontrolável me subiu, aquela loira (nada contra) gorda (nada contra, novamente) simplesmente ignorou o fato de que não deveria estar naquele lugar, acomodou seu traseiro gordo no banco e fingiu que nada estava acontecendo ali. Nunca senti tanta raiva e desprezo por alguém e por um motivo desses. Então olhei para trás, e aquela senhora em pé, tentando se equilibrar à medida que o ônibus fazia seu trajeto, esboçava um belo sorriso. Aquele sorriso branco fazendo contraste com sua pele negra me fez pensar “este é o povo brasileiro”. Não, não vou ficar aqui dando lições de como o povo brasileiro é isso ou aquilo. Só achei interessante que no início da viagem, o que me incomodava era estar de pé no ônibus, e não observei que minhas pernas não doeriam, já que passaria o restante do dia trabalhando sentada. Ao entrar no ônibus, o que me incomodava eram meus pés estarem gelados, e eu estava mal-humorada por isso. Senti-me muito estúpida. Aquela senhora, além de ter as pernas e pés cansados, cobertos por uma saia longa, tentando ficar em pé, se equilibrando naquele ônibus lotado, tinha um belo sorriso no rosto.
Adoraria finalizar assim esse texto, num tom poético. Mas eu não seria eu se não contasse o que aconteceu depois, preciso dividir essa alegria (maldade).
A pessoa que estava do lado da gorda se levantou para descer do ônibus, obrigando-a a levantar-se do seu lugar para que a outra pudesse passar. Nesse instante, uma das idosas que ali estavam, mais do que rapidamente tomou o lugar e chamou aquela senhora (a do sorriso dócil) parta sentar-se. Resumindo: a gorda teve que seguir viagem em pé. Pode soar maldoso, mas ver a queda da loira gorda foi uma verdadeira delícia.



Um comentário:

  1. Pois é. Já me senti assim também. Adorei a velhinha esperta, ela daria uma excelente personagem para alguns de seus futuros contos.

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