Desejo Carnal
Quando aquela mão gélida tocou-lhe no rosto, ela acordou do
estado de transi em que estava. No quarto de paredes brancas, estavam apenas
ela, uma maca de lençol azul e o defunto. Deitado ali, ela o tocava de leve no
rosto frio e branco, no qual se podia notar que já não corria mais sangue. Mas
porque será que ela não acreditava que ele estava mesmo morto? O acidente de
carro na Rodovia 66 foi realmente desastroso. E sentia-se ainda pior por ter
escapado com vida, e sem grandes ferimentos.
Saiu do quarto e caminhou pelo corredor iluminado. Achou
estranho o fato de não haver ninguém mais naquele local, pois se ouvia vozes
vindas do corredor quando ela estava no quarto com o morto. Andou até a porta
principal, que ficava no fim do corredor, mas antes que tocasse o trinco da porta, sentiu uma mão
gelada pousar sobre seu ombro. Assustada, engoliu em seco e levantou a cabeça,
olhando para o vidro da porta. Não via nenhum reflexo no vidro. Virou-se
devagar e deu de cara com ele.
- Meu Deus! – foi a única coisa que ela conseguiu proferir.
Ele usava uma camisa social listrada e calça jeans. Estava penteado e
perfumado, como quando ia para uma reunião importante no escritório. Mas as
olheiras profundas não haviam desaparecido. – Você...
-Não, eu não estou morto. Não sentiu quando lhe toquei o
rosto instantes atrás?
Os olhos dela se arregalavam cada vez mais. Aquilo seria um
sonho?
-Sim, senti. Mas achei que fosse ilusão.
Ele pegou a mão dela, e a conduziu até o conhecido “conforto”,
um quarto onde os médicos descansam. Havia ali um sofá branco, com almofadas
vermelhas. No frigobar ele encontrou morangos e um chantilly spray. Apanhou
também um champanhe e duas taças.
Ela estava sentada no sofá, ainda não acreditando no que
estava acontecendo. Mas pensou bem, e resolver apenas deixar aquele momento
acontecer, fosse real ou não, ela o amava e queria mais do que nunca estar com
ele.
Ele serviu a champanhe e entregou-lhe uma taça. Beberam
olhando-se nos olhos. Segundos depois, começaram a sair faíscas, e quando
perceberam, já estavam quase sem roupa. O que começou romanticamente no sofá,
foi parar no chão, no tapete de pele de zebra, por onde já se encontrava uma
camisa social e um vestido branco, de alças rendadas, usado sem sutiã. O clima
estava cada vez mais quente, e ela apenas aproveitava o momento, tentando
encostar um pouco mais o corpo no peito dele, para sentir seu coração bater. Nada.
Ele colocou uma madeixa do cabelo dela para trás, beijou-a de leve, apenas
encostando os lábios os dela (ele sabia que isso a enlouquecia), e em seguida
partiu para o pescoço. Aquela respiração ofegante dela, aquele belo pescoço,
cheio de sangue correndo nas veias, o deixava cada vez mais incapaz de
continuar beijando o local. Foi aí que o zumbi a atacou.
Numa mordida feroz, o maravilhoso homem arrancou dela um
belo pedaço de carne, e o sangue muito vermelho e grosso pintava as partes em
branco do tapete. Os olhos dele voltaram a perder a vida. As olheiras ficaram
pretas, ainda mais evidentes. A cor e o calor do corpo dele se perderam,
enquanto ele saboreava aquele delicioso pedaço daquela mulher, sem sair de cima
dela, fazendo-a sentir que o corpo dele estava frio, como à momentos atrás,
quando ela o visitara na sala de autópsia.
De todos os seus que eu li, acho que esse é o melhor. Gostei bastante do final.
ResponderExcluirmeu...que coisa em? Muito bom!
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