sexta-feira, janeiro 06, 2012

Black Tangled Heart


Desejo Carnal

Quando aquela mão gélida tocou-lhe no rosto, ela acordou do estado de transi em que estava. No quarto de paredes brancas, estavam apenas ela, uma maca de lençol azul e o defunto. Deitado ali, ela o tocava de leve no rosto frio e branco, no qual se podia notar que já não corria mais sangue. Mas porque será que ela não acreditava que ele estava mesmo morto? O acidente de carro na Rodovia 66 foi realmente desastroso. E sentia-se ainda pior por ter escapado com vida, e sem grandes ferimentos.
Saiu do quarto e caminhou pelo corredor iluminado. Achou estranho o fato de não haver ninguém mais naquele local, pois se ouvia vozes vindas do corredor quando ela estava no quarto com o morto. Andou até a porta principal, que ficava no fim do corredor, mas antes que  tocasse o trinco da porta, sentiu uma mão gelada pousar sobre seu ombro. Assustada, engoliu em seco e levantou a cabeça, olhando para o vidro da porta. Não via nenhum reflexo no vidro. Virou-se devagar e deu de cara com ele.
- Meu Deus! – foi a única coisa que ela conseguiu proferir. Ele usava uma camisa social listrada e calça jeans. Estava penteado e perfumado, como quando ia para uma reunião importante no escritório. Mas as olheiras profundas não haviam desaparecido. – Você...
-Não, eu não estou morto. Não sentiu quando lhe toquei o rosto instantes atrás?
Os olhos dela se arregalavam cada vez mais. Aquilo seria um sonho?
-Sim, senti. Mas achei que fosse ilusão.
Ele pegou a mão dela, e a conduziu até o conhecido “conforto”, um quarto onde os médicos descansam. Havia ali um sofá branco, com almofadas vermelhas. No frigobar ele encontrou morangos e um chantilly spray. Apanhou também um champanhe e duas taças.
Ela estava sentada no sofá, ainda não acreditando no que estava acontecendo. Mas pensou bem, e resolver apenas deixar aquele momento acontecer, fosse real ou não, ela o amava e queria mais do que nunca estar com ele.
Ele serviu a champanhe e entregou-lhe uma taça. Beberam olhando-se nos olhos. Segundos depois, começaram a sair faíscas, e quando perceberam, já estavam quase sem roupa. O que começou romanticamente no sofá, foi parar no chão, no tapete de pele de zebra, por onde já se encontrava uma camisa social e um vestido branco, de alças rendadas, usado sem sutiã. O clima estava cada vez mais quente, e ela apenas aproveitava o momento, tentando encostar um pouco mais o corpo no peito dele, para sentir seu coração bater. Nada. Ele colocou uma madeixa do cabelo dela para trás, beijou-a de leve, apenas encostando os lábios os dela (ele sabia que isso a enlouquecia), e em seguida partiu para o pescoço. Aquela respiração ofegante dela, aquele belo pescoço, cheio de sangue correndo nas veias, o deixava cada vez mais incapaz de continuar beijando o local. Foi aí que o zumbi a atacou.
Numa mordida feroz, o maravilhoso homem arrancou dela um belo pedaço de carne, e o sangue muito vermelho e grosso pintava as partes em branco do tapete. Os olhos dele voltaram a perder a vida. As olheiras ficaram pretas, ainda mais evidentes. A cor e o calor do corpo dele se perderam, enquanto ele saboreava aquele delicioso pedaço daquela mulher, sem sair de cima dela, fazendo-a sentir que o corpo dele estava frio, como à momentos atrás, quando ela o visitara na sala de autópsia.





*Black Tangled Heart (by Silverchair)

2 comentários:

  1. De todos os seus que eu li, acho que esse é o melhor. Gostei bastante do final.

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  2. meu...que coisa em? Muito bom!

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