Acho que todas as pessoas que existem vem ao mundo com algum propósito. E este propósito está ligado a algo que, por falta de palavra mais adequada, eu chamo de vocação. Todos nós temos alguma coisa em que somos verdadeiramente bons. Algo que ninguém pode nos tirar e que o dinheiro não compra. Ou você tem ou você não tem.
Eu sei que um dia desses, passeando pelas minhas neuroses, eu me dei conta de qual é a minha vocação: tenho certeza que é escrever. Mas, isso parece uma coisa tão simples, para ser chamada de vocação, uma palavra com tanto peso. E me dei conta disso juntando tudo. Estava ao telefone, por volta das onze da noite, conversando com meu noivo, que estava com meu notebook, lendo alguns contos que escrevi. Talvez por me amar ele encha demais a minha bola dizendo que eu escrevo “muito” bem. Comecei a pensar nisso, no prazer que me dá fazer isso. Ele me encoraja muito a correr atrás deste grande sonho, mas a realidade (que é uma falácia) nos puxa para o mundo real, onde temos emprego, faculdade e outras coisas mais que tomam nosso tempo. Agora, de férias da faculdade, tenho sim mais tempo para escrever, mas e a inspiração? Não é assim, sentar e escrever. O escritor tem uma série de limitações. Eu por exemplo, não posso estar lendo livro algum no período em que estou desenvolvendo alguma nova história. Não consigo escrever se não estiver sozinha. Não consigo escrever na sala da minha casa. Sou louca para sentar no balcão da cozinha e destrinchar, mas é difícil ficar sozinha ali, tem sempre alguém passando.
Não é fácil encontrar inspiração. Às vezes, ela vem quando estou no ônibus (local improvável para escrever) ou no trabalho (o que me frustra, por não poder escrever nada ali). Não basta uma boa ideia, tem que estar com a emoção, sentindo-se como cada um dos personagens.
Gosto de críticas sinceras (por mais que doam). Não quero esperar morrer para que meu trabalho (sim, considero um trabalho, o mais prazeroso de todos) seja reconhecido (se eu merecer). Eu só queria que um dia o mundo pudesse ver (ler, no caso) o que eu escrevo. Porque não escrevo para mim, é para vocês.
Trouble Sleeping (The Perishers)
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