quarta-feira, abril 10, 2013

In for the Kill


Sobre a solidão

Ela vem sorrateira, chega sem graça e sem motivo. Toma conta do seu coração, mas seu corpo também sente a presença inquietante.
O coração apertado, a falta de ar e a tristeza sem motivo. A esta altura você já a reconheceu.
Está te fazendo enxergar tudo com desânimo, perder a percepção do mundo bom que todos pregam e você vai se afundando cada vez mais.
A pior parte é que ninguém pode te ajudar. Só você sabe (?) como sair do vazio que ela proporciona e não há ser humano perfeito ou um acontecimento histórico que te arranque dela.
Você deseja apenas sonhar, gostaria de dormir para sempre para ver se a afugenta; o sentimento fúnebre de morte te domina.
Só  resta esperar que os ventos que a trouxeram a levem de volta, e que você não enlouqueça com o passado dos que te cercam, pois hoje esse passado não faz mais sentido.




In For The Kill - by Billy Lunn

segunda-feira, março 04, 2013

Wave Goodbye


Reflexão

Na dor de um sentimento de angústia posso ter descoberto em você uma fuga. Mas você merece muito mais do que isso. Você merece alguém só para você, que se doe por inteiro.
A minha inutilidade pode me fazer degradar, mas acredito que sua vitalidade possa me colocar para cima neste momento de reflexão. Será que você existe?
Assusta-me mergulhar de novo em algo que eu não sei onde vai dar, mas ao mesmo tempo me parece correto. Será esta a decisão mais sensata?
Refletir é o que mais preciso e faço no momento, e me surpreendo com o meu poder de compreender o quanto certas coisas me faziam mal. Mas o que me surpreende mais ainda é o sentimento nulo que tenho  em relação a algo que esteve presente em minha vida por muito tempo. Triste.
Talvez eu tenha mudado muito rápido. Talvez eu já tenha encontrado o meu lugar há tempos e só precisasse de um pouco de coragem e confiança em mim para olhar finalmente para o horizonte e escolher o caminho melhor. E acredito que de alguma maneira você está neste caminho.

“See me roam, See me climb, if I leave here now I can make good time”


segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Nothing Left To Lose


Um acordo com a morte

A rua estava vazia e era quase meia-noite. Ela caminhava alternando os passos entre os ladrilhos, o vestido longo e preto balançando na neblina. A casa era no fim da rua.
Ela parou frente a uma placa amarela muito suja, com dizeres em outra língua (acreditava ser grego). As letras em vermelho se destacavam e logo abaixo desta placa a porta de madeira estava entreaberta. Ela esboçou um leve sorriso no canto da boca, achando engraçado que a brisa não tivesse empurrado a porta e a fechado. Enfim entrou.
A casa era bem maior do que parecia vista de fora. A parede da direita do hall de entrada era coberta por quadros de crianças tristes, alinhados perfeitamente em um papel de parede camurça na cor vinho. Ela passou as pontas dos dedos na parede e arrepiou-se quando sentiu o toque gelado.
A sala era modesta e com dois grandes sofás na cor verde-musgo. Tudo cheirava a mofo e um dos sofás tinha uma grande mancha seca que parecia ter secado no sol. Ela passou pela sala rapidamente em direção ao fim do corredor.
Parou frente a uma porta dourada. Não era conhecedora do assunto, mas tinha certeza que era ouro. A maçaneta chamou a sua atenção, pois tinha o formato de um osso de dedo médio. Tocou a porta para sentir os relevos e percebeu que os formatos na porta eram ossos de diversas partes do corpo. Não era muito alta, então logo acima de sua cabeça o olho mágico se mexia parecendo real. Fechou os dedos para bater na porta, mas antes que pudesse bater, esta se abriu.
Uma sala realmente elegante, mas este cômodo não cheirava a mofo. O odor era diferente, similar ao almíscar. Uma estante à esquerda reunia a vasta coleção de livros antigos, de páginas amareladas e capa dura, com letras garrafais e douradas nas laterais. De longe enxergou o nome Macbeth. Engraçado, a morte gostava de ler Shakespeare.
A porta pequena e negra se abriu no canto direito. Ela mal tivera tempo de observar quão pequena era a porta. Media aproximadamente meio metro. E o mais impressionante foi que a figura que de lá saiu media mais de dois metros, com certeza.
Vestia um longo sobretudo preto com um capuz que cobria toda a testa e fazia sombra sobre o rosto. A moça moveu a cabeça para a direita e depois para a esquerda, na tentativa de encontrar um foco de luz que deixasse mostrar a face por trás do capuz, mas era impossível. O odor almíscar agora se misturava com um cheiro muito forte de terra.
A estranha figura levantou  a mão direita e apontou com o indicador uma cadeira com estofado vermelho sangue e estrutura em madeira. Ela não pôde deixar de observar o tamanho extremamente exagerado daquele dedo, com unhas compridas e amarelas. Seriam neste tom os dentes da morte?
- Não, meus dentes são negros. – A voz grossa e temerosa a fez gelar. A criatura ouvira seus pensamentos! – Por favor, sente-se querida.
Ela não pensou duas vezes e se sentou. A cadeira estava praticamente no meio do cômodo e ela sentiu falta de uma mesa ou escrivaninha à sua frente, para que a morte pudesse sentar encarando-a. Estranho.
- O escritório da morte não precisa de escrivaninha. A morte não se cansa. – Droga! Mais uma vez a maldita ouvira sua mente.
- Desculpe. – A voz da moça soou trêmula.
- Não estou aqui para brincadeiras. Sinto uma alma pura e um cheiro de inocência vindo de você, mas também sinto um irrefutável desejo de vingança. Isto é muito bom.
A morte andava em círculos em volta dela, o frio foi ficando intenso. Casa pelo do seu corpo se arrepiava. Finalmente a morte depositou seis longos dedos em seu ombro e ela sentiu um cheio que parecia álcool ou acetona embebedá-la. Era formol.
- Um membro do inimigo.
Ela engoliu em seco. Sentiu a garganta quase sangrar.
- Feito.
A morte a conduziu até a pequena porta. Sem acreditar que conseguiria, entrou no cômodo oculto. Sentiu-se bem novamente.
A câmara era perfeita para toda e qualquer sessão de tortura que desejasse realizar. Cordas penduradas, barras de aço, chicotes, vidros de ácido em quantidades sem igual.
À direita estava ele. O homem que ela tanto desejara matar.
- Vá em frente. – A morte disse e tocou o ombro dela de leve, empurrando-a para frente.
Ela titubeou e começou a dar lentos passos em direção ao homem pendurado de cabeça para baixo. Ele tentava berrar, mas a boca estava coberta por um generoso pedaço de fita. Ela engoliu em seco ao chegar mais perto.
- Se conseguir colocar em prática os seus desejos mais obscuros de morte, te darei tudo o que almeja. – A morte sussurrou no ouvido da moça.
Ela simplesmente deixou aquele sentimento tomar conta de seu corpo. Analisava o corpo pendurado, a língua se movendo de um lado para o outro dentro da boca, maquinando a coisa mais macabra que podia fazer com ele.
Ela ergueu a mão direita e apanhou um bisturi comprido que estava alinhado numa mesa de madeira ao lado de muitos outros instrumentos cirúrgicos. Umedeceu os lábios. Ergueu o bisturi na altura da região pélvica do homem, onde um órgão fétido balançava. Será que conseguiria fazer aquilo?
-Você consegue! É a minha garota. – A morte falou, mas sem mexer os lábios negros. Falou dentro da cabeça dela.
Em um único e brusco movimento ela arrancou o órgão genital do homem. Os urros de dor faziam eco naquele cômodo e o sangue escorria desde a virilha, fazendo uma poça no umbigo e caindo como água de uma torneira aberta na face dele. Quando misturado às lágrimas, o sangue ficou ralo, mas sem perder a cor vermelha vibrante que ela tanto gostava de ver.
- Acho que já é o bastante.  – Ela se voltou para a criatura de preto atrás dela. Cabisbaixa, os cabelos pretos caíam molhados de suor em seu rosto.
- Você é capaz de mais. – A morte roçou o polegar gelado e amarelado na face dela e neste momento ela sentiu algo obscuro dominá-la. Os olhos que eram castanhos ficaram vermelhos.
Ela se virou em direção à mesa de artefatos para tortura e apanhou uma faca pontuda em um formato que lembrava as ondas. Enfiou a faca com toda a força na barriga do homem pendurado e puxou sem piedade. O intestino se prendera às “ondas” da faca e agora estava caindo, quente e macio. Escorregava pelo peito dele, passava pelo rosto e caía no chão.
Ele respirava com dificuldade, os olhos lutavam para ficar abertos devido ao sangue que penetrava. O nariz também absorvia o sangue e a vítima começou a vomitar. O vômito era espesso e vermelho claro, uma mistura das últimas tripas com sangue escorrendo em seu rosto.
Ela apreciou por alguns instantes aquela imagem e sentiu-se vingada. Aquele fora o homem que lhe causara a maior dor e agora ela se deliciava com sua agonia. Ficou admirando o desespero dele por mais alguns minutos e enfim puxou parte de seu intestino delgado até o pescoço e enrolou com muita força. Estrangulou-o e viu a vida deixar seus olhos cretinos.
Agora só lhe restava receber a recompensa que a morte prometera, se é que poderia haver recompensa maior do que presenciar o sofrimento daquele ser.